Setimo Livro do Roberto C Garcia

 

Capítulo 1

Uma admiração pelo sobrenatural

 

Roberto, um garoto nascido em uma família católica, cresceu acompanhando seus pais e seus irmãos à capela do bairro onde moravam, todos os domingos e assistindo ás missas. Seus familiares incluíam algumas tias adventistas e alguns tios umbandistas. Seus avos maternos e sua avó paterna, ainda vivos não professavam nenhuma religião, embora admitissem que acreditavam que todas as religiões na sua forma intima levassem a criatura ao seu Criador -”Deus”

Dona Valquíria, sua avó materna ainda criança, teve um impulso de iniciar a “benzer” as crianças quando uma de suas filhas (tia de Roberto) ficou doente e os médicos não encontravam a causa. Ela então teve um impulso e tomando da filha começou a rezar e a dar uns passes nela. Qual não foi sua surpresa embora esperasse o resultado, sua filha sarou da doença.

Logo começaram as sobrinhas, as filhas das amigas a lhe procurar para serem benzidas também. E assim começou sua jornada como benzedeira. Sua boa vontade e dedicação eram tão desprendidas que os céus lhe davam assistência e as curas ocorriam.

Roberto, como toda criança achava divertido ficar parado na frente de sua avó e receber aqueles passes singulares que sua avó ministrava. E foi crescendo neste ambiente que seu interesse pela manifestação deste dom começou a florir. As vezes pedia à avó para benze-lo tão somente para observar seus gestos e depois tentar refaze-los.

Mas este interesse infantil foi-se tornando uma atenção ao auxilio que estes benzimentos faziam ás pessoas tanto crianças como adultos e algumas vezes os animais caseiros que dona Valquíria benzia. O garoto percebeu que havia algo mais espiritual nestes gestos que sua avó transmitia a todos. E dentro dele uma admiração pelo sobrenatural que havia despertou e com o tempo veio a crescer e tornar um desejo de ser também um canal de bençãos para alguém na sua vida.

Talvez, pensava, Deus também gostaria de usá-lo neste dom e trazer alívio a quem precisasse. Começou a comprar revistas de simpatias, de sonhos, e livros de passes e benzimentos par ler sobre o assunto. Quaisquer tipos de orações que alguém lhe dissesse que sabia, fosse de guardar caminhos, atrair felicidade, etc..lhe interessava. Nada porém, era aquilo que sua alma buscava. Ele queria algo que sentisse dentro de si, um envolvimento natural e que lhe mostrasse que era a necessidade do doente. Mesmo porque também ele ainda não havia benzido ninguém. Dona Valquíria notou o interesse do neto nas curas espirituais e chamando-o a uma conversa disse-lhe:

 

_Meu neto, o que você pretende querendo aprender a benzer as pessoas? Você acha divertido ficar balançando as mãos na frente de alguém e rezar em voz baixa? Você está lidando com coisas do céu e se não parar poderá ser castigado pelo Pai que está nos céus.

 

_Não minha avó! Respondeu o garoto, com um brilho no olhar. Quero aprender para poder ajudar as pessoas a serem curadas de seus males e verem que Deus quer que sejamos curados conforme o merecimento de cada um!

 

_Então, tenha calma! Pois se Deus quiser usá-lo, no devido tempo, Ele tocará em seu coração e você começará a deixar fluir de dentro de si este poder. Comece a orar pedindo a Deus que se for da Vontade dEle, no momento próprio, o dom se manifeste em você. Não procure invenções de como isto poderá iniciar pois não é desta forma que Deus age.

 

_Mas tem pessoas que carregam consigo algumas orações para que possam ajudar seu anjo da guarda a guia-los na vida!

 

_Todos nós podemos ter uma oração que quando a emitimos, um sentimento pode correr por dentro de nós. È o nosso íntimo falando com Deus. È o momento só nosso de comunhão com Deus e nosso anjo da guarda. Por isso, temos conosco sempre esta oração, para no momento em que nos julgamos em perigo, ou fracos espiritualmente, a executamos e nosso íntimo se acalma.

 

_ Eu sei que meu pai tem uma oração muito linda que se chama Prece de Cáritas. Eu já gosto da oração de São Francisco de Assis, pois parece que ela é própria das pessoas que buscam ser auxílio de outras. São Francisco de Assis dizia que para ser instrumento do Senhor devemos não procurar ser recompensados pelo que fizermos, mas buscar o conforto de sabermos que fizemos o que Deus queria.

 

_Muito bem, meu filho! Então sossegue este coraçãozinho e vá brincar, pois Deus sabe o tempo certo para tudo.

 

Depois desta conversa com sua avó, Roberto saiu mais confiante que Deus haveria de chamá-lo para trabalhar na sua obra.

 

A adolescência floresce.

 

 

Passam os dias, os meses e o anos e a adolescência chega.

Roberto agora tem 12 anos. Frequenta o quarto ano primário e se encanta pelas possibilidades que esta idade traz. As meninas colegas das classes mistas dos últimos anos. O destaque que seu interesse pueril dispensa a uma delas. Seus sonhos de crescer, trabalhar, casar-se (de preferencia com ela) e ter seus filhos.

Parece que aquele interesse pelo sentido espiritual, foi relegado ao esquecimento. Mas como toda adolescência passa e os sonhos se tornam outros assim que a juventude chega. E como jovem os desejos de Roberto agora são: festas, bailes da juventude, farras com os amigos e primos. Pensamentos de casar ainda são uma constante, mas não com a pressa que o adolescente queria. Primeiro aproveitar a juventude e se garantir financeiramente para uma vida de casado.

Durante esta fase, em alguns momentos em que o seu desejo pelo espiritual acordou, o jovem procurou sua avó e conversou com ela:

_Sabe vó! Acho que aquele negócio de que eu poderia ajudar alguém benzendo como a senhora faz, Deus não não tá muito a fim de deixar que eu faça isso! Porque ainda sinto este desejo mas cada vez mais vejo que isto está distante e não vai acontecer.

 

_Quem é você, para dizer a Deus o que Ele deve e que em que hora tem que fazer isto ou aquilo? Ele sabe a hora em que você estará preparado para realizar sua obra. Veja sua avó! Eu nem sabia o que fazer para benzer ou rezar por alguém, até que depois de casada, precisei tomar atitude pela minha filha. E então a partir daí, Deus mandou todos os que Ele queria para me procurar. Eu não precisei chamar ninguém, Ele sabia quem podia vir e ser abençoado.

 

_Continue orando a Deus, meu filho, e não esmoreça porque Ele saberá quando se caso for de sua Vontade te usar.

 

As palavras de sua avó tinham um poder de acalmar o espírito de Roberto. Seu amor por esta senhora era imenso. Tinha um orgulho enorme por ser seu neto. Amava de paixão sua avozinha. Também amava seu avô materno, Seu João, que sempre brincava com ele dizendo :

_Qual o que ! Como um chorão como este moleque vai ter coragem de benzer alguém? Tem medo da própria sombra, vai ter coragem para benzer alguém com aranganho (método que em Portugal usava-se levando uma pessoa, criança ou adolescente doente, com os pulsos amarrados com barbante numa encruzilhada e com uma tesoura cortava-se barbante curando o doente, pois era cortada a doença). Embora o método usado por dona Valquíria fosse diferente.

 

Apesar das brincadeiras, seu João amava muito seus netos. Roberto tinha maiores afinidades com seus avos maternos. Embora sua avó paterna também operasse pessoas com benzimentos, sua admiração por Dona Valquíria era evidente.

A vida do jovem agora já estudando o colégio ginasial, ocupava-se nas excursões que os colegas faziam ás cidades históricas com grande enfase a Aparecida do Norte, padroeira do Brasil. Quando não faziam excursões, os estudantes promoviam piqueniques nas praias, nas cachoeiras ou em clareiras nos morros existentes na cidade.

Na volta de uma dessas reuniões, Venâncio, um amigo de Roberto, queixou-se de sentir um mal estar e ser dominado por dores de cabeça. Roberto meio em tom de brincadeira disse:

_Quando chegarmos em casa, eu pego um copo e benzo você de “sol na cabeça”!

Venâncio aceitou.

 

 

Quando chegaram na casa de Roberto, amigo cobrou-lhe o benzimento. Queixava-se de dores insuportáveis na altura da cabeça. Roberto procurou sua avó para benzer o amigo, mas ela não estava. Tomou a decisão de tentar aliviar a dor do amigo. Pedindo a Venâncio que se sentasse em uma cadeira, conforme já havia visto sua avó fazer, Roberto tomou um copo e enchendo -o de água, colocou no alto da cabeça dele. Com uma mão equilibrava o copo e a outra levantada ao alto, Roberto começou um Pai Nosso e rezou pedindo a Deus que derramasse unção sobre a vida do Venâncio, não porque ele Roberto estava pedindo mas por que Deus queria abençoar o amigo. Roberto começou a sentir algo estranho acontecendo com ele.

Um estranho formigamento começou a descer pelo seu braço elevado , estendendo-se ao seu braço que segurava o copo e era como se estivesse saindo pela sua mão para o copo. Terminada a oração, conforme sua avó fazia ,ele pediu que Venâncio jogasse a água pelo seu ombro e acreditasse que estava curado. Sua surpresa foi que seu amigo confirmou que havia sido curado, pelo seu benzimento.

Lembrando-se das palavras da avó, Roberto disse ao amigo que não lhe agradecesse, mas a Deus, pois na realidade a cura havia sido feita pelo Criador, sendo que ele havia sido um canal somente.

 

Dias depois em reunião com os amigos, Venâncio citou a sua experiência com a dor de cabeça. Muitos deles iniciaram uma gozação com Roberto dizendo-se doentes de diversos males.  Um dos rapazes na reunião de nome, Adauto, disse a Roberto que ele havia brigado com a noiva. Que conselho Roberto lhe daria.

Sem saber exatamente porque, Roberto sentiu-se envolvido por algo suave e com palavras calmas e diretas foi dizendo :

_ Tua discussão com tua noiva, embora pareça coisa à toa, se tu não te firmares para conciliar com ela, mesmo que pareça que ela tem razão no momento, acabará com teu relacionamento e nós todos sabemos que vocês nasceram um para o outro. Reconcilia-te com ela e tudo será esclarecido mais tarde. Eu mesmo agora não posso te afirmar o que seja, mas fizeram algo para separar vocês.

 

_Grande Roberto, virou vidente agora, não? Já pode começar a jogar cartas e ganhar muito dinheiro! Vamos se reunir e abrir uma sala de ler cartas e enriquecer com nosso amigo aqui.

 

_Deixa de estória, Marcelo! Se por acaso eu realmente puder ter dom de ajuda ás pessoas, não devo cobrar e nem esperar recompensa de ninguém . Defendeu-se.

 

As manifestações começam a acontecer.

Outras pessoas que souberam do ocorrido com o amigo do jovem, e que tinham alguém doente em casa, vinham procurar Dona Valquíria. Mas não estando esta, as pessoas em vez de esperá-la chegar como faziam antigamente, agora pediam para o rapaz atende-las, pois confiavam que ele teria o mesmo dom da avó. A princípio Roberto se escusava de faze-lo, pois não queria tomar a frente de sua avó, nem que ela se magoasse com ele. Mas Dona Valquíria chamou o neto mais uma vez e disse:

 

_ Meu filho, lembrasse que eu disse que quando Deus achasse que você estava pronto, Ele iria usá-lo. Se por ventura estas pessoas aqui vêm, e num horário em que eu não estou, coisa que nunca aconteceu na minha vida, é porque a ajuda que elas precisam é de você e não de mim.

_Não tenha medo de atender a elas, pois são direcionadas a você e não a mim.

 

E a partir daí as pessoas começaram a vir de diversos bairros, e outras cidades vizinhas, para serem atendidos por Dona Valquíria e seu neto. Roberto já não podia mais agendar uma hora depois do trabalho para atender as pessoas, e foi deixando do trabalho até que por fim demitiu-se para dedicar-se ao atendimento espiritual dos necessitados que vinham à sua procura e de sua avó que com a idade já mais avançada, separava-se do trabalho mais amiúde. Com o tempo dona Valquíria não mais podia atender, ficando mais como conselheira de Roberto, quando ele precisava de um conselho da experiência de sua avozinha.

Passados o tempo, uma noite quando Roberto já dormindo, tem um sonho. Está ele em seu quarto fazendo suas orações e um clarão ilumina o aposento, um senhor bem trajado, com roupas alvas, e de um falar tão calmo e suave, convida-o a uma viagem.

 

_Como podemos viajar a esta hora? Neste horário já não temos ônibus circulando!

_ Você sabe que a viajem a que me refiro não será feita por veículos comuns. Viajaremos pelo pensamento e chegaremos ao lugar de destino rapidamente. Dê-me sua mão.

Roberto deu a mão ao senhor e sentiu seu corpo perder peso e ficar leve, tão leve que passou a flutuar. Atravessaram o telhado da casa modesta e subiram aos céus. Flutuando no espaço, Roberto via a cidade ficar pequena e começar a desvanecer-se. Uma nuvem branca e cálida cobria sua visão e aos poucos foi-se desvanecendo. Surgiu então uma planície muito verde, com árvores com ricas folhagens, algumas frutíferas e seu frutos maduros a apetitosos, rios de águas claras, serpenteavam a planície, alguns deles desaguando em belíssimas cachoeiras.

Nas margens que ladeavam os rios, nos gramados verdejantes que ladeavam estes rios, grupos de pessoas vestidas como seu visitante, em trajes alvas e impecáveis, faziam piqueniques com fartas cestas de guloseimas. Sucos de frutas com aparências de estarem geladinhos, instigavam a sede só de olhar para eles. As crianças deste local, brincavam entre si, com correrias de pega-pega e faziam uma algazarra prazerosa de se escutar. O ar neste ambiente era suave , a brisa chegava ao rosto e parecia mais um beijo da natureza agradecendo ao homem o seu cuidado com ela.

Algumas pessoas chegavam ali conforme eles o faziam, pela volitação. Roberto foi conduzido pelo seu guia a uma sombra de uma árvore robusta, que parecia satisfeita em abrigar a pessoa que os aguardava ali. Desceram suavemente no local e a senhora que estava ali, foi-se virando devagar para Roberto e o espanto espalhou-se em seu semblante.

Dona Valquíria sorria afetuosamente para o neto abismado por encontrá-la naquele local.

 

_Vovó! Conseguiu dizer sorrindo de felicidade. O que a senhora faz aqui também? Quem a trouxe para cá? Como descobriu este local tão espetacular?

 

_Calma meu neto! Muita coisa será lhe explicada. Primeiro vim para cá, trazida pelo seu avô, que me serviu de guia!

 

_ Mas como se vovô morreu há quase dois anos?

 

_Exatamente, meu querido e hoje eu vim me juntar a ele. Graças ao nosso empenho na jornada planejada para esta nossa vivência na Terra, Hoje podemos descansar nestas áreas de revitalização espiritual.

 

_Espere aí, vovó, como veio se juntar a ele se eu deixei a senhora dormindo no seu quarto quando saí trazido pelo meu guia para cá?

 

_Sim, meu netinho! Quando voltares perceberás que eu não mais estarei naquele mundo. Cumpri minha missão. Ajudei aos necessitados como planejei e preparei você para me substituir, pois este foi o plano que preparaste para ti, ao reencarnar.

 

_Agora toma consciência da tua missão, e te prepares para a tua jornada que por opção tua e de acordo com teus débitos, enfrentarás no curso de tua jornada terrena. Não temas nem desfaleças, pois estarei contigo sempre que precisares e Nosso Senhor Jesus Cristo que é o alvo maior de nosso sacrifício,não te desampará, não te deixará cair nas armadilhas que o inimigo erguerá contra ti. Auxilia, sofre, persevera e confia. Esta é tua missão na Terra.

 

_Não sei se terei forças para levantar esta bandeira, antes eu tinha você ali comigo, mas sozinho que farei? Como reconhecerei quem me quer mal?

 

_Não estarás tão só! Alguns amigos de antigas lutas tuas estarão contigo e te auxiliarão. Com o tempo eles chegar-se-ão e tu os reconhecerá como colaboradores fieis, não os reconhecerás como amigos de outras lutas mas de fieis ajudantes desta obra que inicias. Mas agora é hora de retornares. Beijos te dou meu neto amado. Não te esqueças a tua vovó sempre estará do teu lado. Ore e Deus te enviará as minhas palavras em teu auxílio. Teu avô também te abençoa e de deseja toda a felicidade no desempenho da tua missão. Atua com o coração e vencerás esta batalha.

 

Roberto ainda quis falar alguma coisa , porém as imagens foram se desfazendo, e ele sentiu-se como se fosse acordando de um sonho maravilhoso. Acordou de um pulo. Sentia no corpo as brisas suaves daquele lugar mágico, levou a mão até o rosto pois parecia sentir ainda forte o beijo de sua amada vovó.

 

_Vovó! Gritou. Com um salto chamou pelos seus pais e correu para o quarto de Dona Valquíria. Abriu a porta no momento em que sua mãe e seu pai chegavam. Na cama, deitada com a aparência tão feliz estava Dona Valquíria. Parecia dormir um sono revigorante e alegre. Temendo pelo que sonhara, Roberto aproximou-sedo corpo de sua avó e tocou-lhe querendo acorda-la, embora soubesse onde ela estava agora.

 

Constatada sua passagem ás venturosas passagens do céu, Roberto contou aos pais o sonho bem real que tivera e todos compreenderam que Dona Valquíria, após cumprir sua missão no ambiente daquela família que ela amara, partiu para o seio do Pai. E Deus a recebera como uma vitoriosa na sua jornada terrestre.