Sexto Livro do Roberto C Garcia

 

 

 

 


 


 

Caminhar para o céu.

Roberto C G

Caminhar para o céu.


Dionísio é um espírito desencarnado que recebe a chance de retornar ao orbe terrestre para se aprimorar na sua elevação espiritual, através de trabalhos voluntários em auxílio aos encarnados. Mas seu principal objetivo é libertar-se das sensações que ainda podem prende-lo ás vidas terrenas.  Seu íntimo se digladia entre seguir as orientações de seu mentor, Bernardo, ou dedicar de tempo integral ao lado de sua amada para ajudá-la a superar suas lutas e encontrá-lo nas esferas mais puras.


Garcia Roberto C (1951)

São Vicente - Sp.

Copyright @ 2014 Roberto C Garcia


Esta é uma obra de ficção. Os nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos serão mera coincidência.

Todos os direitos reservados.

1ª edição 2013

Revisão: Roberto C Garcia

Diagramação: Roberto C Garcia

Capa: Roberto C Garcia


 

Garcia Roberto C (1951)

 

Caminhar para o Céu!– Roberto C Garcia

 

São Vicente Sp.

 

ISBN :

 

1 – Romance – Brasil- 1- Título.

Agradecimentos


 

Ao Espírito Santo,

Á toda assistência,

A todo apoio visível e invisível,

A todo incentivo

e a toda inspiração que Ele me

facultou nas madrugadas para que,

este livro chegasse ás suas mãos.

Obrigado! Obrigado! Obrigado!


ºººººººº#####ºººººº

ROBERTO C G

CAMINHAR PARA O CÉU!

Índice

Agradecimentos

Introdução

Capítulo 1

Revendo o passado

A casa de repouso e oração

Doce infância.

Ilusões da juventude.

A partida de Eneide.

Capítulo 2

Os trabalhos na casa de repouso.

Uma fazenda desequilibrada.

Uma gravidez indesejada e um ato impensado.

O desenlace de Judite.

Um rival se revela nas sombras.

Um anjo chega ao paraíso

Capítulo 3

A vida ganha cores mais radiantes.

O retorno de Eneide e Celeste,

Um sonho vira realidade.

Um rival de outrora reaparece

A chegada de um tesouro para Celeste.

Capítulo 4

A felicidade perdura por muitos anos.

Um plano diabólico urde contra a felicidade.

Uma alma perturbada.

Uma visita acalma o coração de Celeste.

Capítulo 5

A primeira vitória do bem sobre o mal.

Dionísio relata sua desgraça e seu sofrimento.

Um descanso na colonia São Vicente.

Capítulo 6

Recepcionados em Harmonia.

Um ser celestial traz reconforto

A ala residencial de Harmonia.

O dia de retornar ao campo físico.

Capítulo 7

A sabedoria traça novos rumos

Final – Projetos para o futuro.

Introdução

A ciência espírita tem-nos demonstrado que ao findar cada jornada que efetuarmos na Terra, não seremos condecorados como anjos, nem tampouco tiranizados como demônios. Mas tão somente receberemos aquilo que aqui semeamos, colheremos os frutos obtidos da luta pela qual reencarnamos. A oportunidade bem aproveitada, dar-no-á a libertação de amargas culpas que deixamos em pendência e que voltamos para sanar.  Cada desafeto que relegamos na dura caminhada para nosso aperfeiçoamento espiritual, cobra-nos o acerto necessário para nossa e sua evolução. Ninguém nos terá por inocentes, nas armadilhas que preparamos na estrada da nossa vivência, para usufruir de bens ou de favores materiais. Cabe a cada um, reconhecer que se não nos é dado aquilo que aspiramos, ou não está no momento de te-lo ou não faz parte de nossa programação, pois esta aspiração poderá nos ser desastrosa, impedindo-nos de evoluir.  Nossa chegada a este mundo, tem por maior finalidade nossos acertos com desafetos ou com nós mesmos. Visto que só nós e' que podemos entravar a nossa própria caminhada.   Aqueles que nos precederam e já se desligaram das mazelas terrenas, mas por amor aos que aqui ainda teimam em permanecer, podem estar ao nosso lado nos aconselhando, transmitindo-nos conselhos, orientando-nos a escolher o melhor caminho. Como ? Através de sonhos, pensamentos que aparecem em nossa mente, e tem fortes influências no nosso comportamento. Nunca estamos sozinhos pois um grande quantidade de testemunhas estão presentes em cada ato de nossa vida e que por bondade divina lhes é permitido nos observar. E sua observância na maioria das vezes é para nos alertar dos perigos que podem nos acarretar o mal, ainda que não presentemente mas num futuro que não se pode deixar de cumprir.  Acompanhe a vida de Dionísio e veja que muitas vezes embora queiramos somente o bem, o fazemos de forma equivocada, por não ouvirmos nossos conselheiros e angariamos penas que deverão ser sanadas.

 

Capítulo 1

Revendo o passado

Sentado na escada da casa acolhedora, mas de aparência modesta, Dionísio relembrava seu passado, quando havia tido os mais felizes momentos de sua vida. Parecia rever-se ainda a percorrer aqueles jardins, crescendo entre aqueles cômodos, que como cofres de segredos viram seu sorriso, suas gargalhadas e suas lágrimas. Entre aquelas paredes, seus sonhos povoaram sua mente, idealizando seu futuro. Sua vida com um rendimento de sua profissão que garantiria um sítio pequeno, mas um local onde pudesse sair da corrida da cidade e no silêncio da mata, refletir sobre os porquês da vida. Um patrimônio em que deixaria a seus filhos a fim de que eles não tivessem que batalhar dia a dia como ele, para amealhar um legado a seus descendentes.

Parecia rever sua mocidade, os estudos, as amizades, os lazeres, tudo aquilo que. sem saber porque, haviam relegado seus sonhos a simples desejos da mente de uma criança sonhadora. O dia em que conheceu Celeste. O arrebatador amor nascido deste encontro. O casamento tão planejado, o filho sonhado e aguardado e por fim a traição esmagadora e destrutiva.  Tais pensamentos o levaram a estado de ansiedade, quando uma voz veio em seu socorro.

_Dionísio, meu irmão! Não te detenhas a rememorar passagens que te façam sofrer as mesmas amarguras das quais, estás prestes a vencer na tua luta evolutiva. Pensamentos negativos, enquanto não sabemos ainda o porque tivemos de sofre-los, podem trazer a nossa memória sentimentos de mágoa, revolta e ódio que só nos fazem estacionar no nosso caminho à sublimação.

Dionísio, como que acordando de um pesadelo, voltou-se ao seu mentor e concluiu:

_Sim, tens razão, meu caro Bernardo! Porém revendo aqui esta casa, não pude deixar de recordar minha infância. Afinal nesta casa nasci e me formei homem. Aqui tive minha caminhada até aquele dia fatídico, o qual me acarretou dores até que a providência Divina te levou a me resgatar do desespero em que me confiei.

_Lembra-te do que nosso amigo Armando nos alertou quando saímos nesta missão de aprendizado no campo do auxilio aos nossos irmãos necessitados da terra. Exortou Bernardo, afetuoso com seu pupilo e aprendiz. O rever novamente o campo de nossas lutas aqui na terra, exigiria um grande esforço de concentração para não nos envolvermos novamente nas auras das lutas que ainda podem estar emanando nestes locais. E estas por si só poderiam nos colocar em sintonia com momentos vividos e despertar as energias daquela hora passada. Tais energias podem nos prender em rancores perniciosos e trazer à tona dores que começam a adormecer.

_ Embora saiba que devemos nos libertar das mágoas passadas, é difícil não lembrar as decepções que nos impuseram, sem se importarem com nossa dedicação em prol de outrem. Disse Dionísio como se querendo entender a atitude de Celeste.

_Devemos entregar tudo nas mãos de Deus e Ele nos dará toda a verdade quando estivermos prontos para recebê-la. Lembre-se que Jesus nos disse: “ Deus não nos dá carga maior do que podemos carregar”. Um dia você terá todo o esclarecimento que agora tanto procura. Espere, confie, e trabalhe e no devido tempo seu coração será saciado.

_Bem, devemos ir-nos. Nosso tempo de trabalho por hoje já está terminado. Voltemos ao ponto de repouso e nos revigoremos com a prece para as lutas de amanhã. Relembrou Bernardo.  

E ambos iniciaram uma jornada até a casa onde funcionava a sua base de recursos espirituais.

A casa de repouso e oração.

Depois de uma curta caminhada, já findava a tarde, chegaram a uma rua de um bairro da cidade. A rua era de paralelepípedos, suas calçadas cimentadas, algumas árvores plantadas em diversos pontos das mesmas. As casas construídas de alvenaria, demonstravam que o poder econômico das pessoas do lugar não eram de grandes posses, embora contrastassem algumas casas de aspecto mais belos com outras bem mais simples.

Pararam em frente a um portão de uma das casas mais humildes e empurrando o mesmo entraram. As pessoas da casa continuavam a sua rotina em preparar o ambiente para os trabalhos da noite, onde se reuniriam os encarnados para as preces de assistência aos trabalhos espirituais que seriam realizados na casa e em outros locais de ajuda espiritual.

Dionísio e Bernardo, transitavam entre os encarnados e se dirigiram a uma sala onde um senhor de idade, com um avental branco, fazia algumas anotações. Ao ver os dois chegarem, levantou os olhos e dirigindo -se a Bernardo saudou:

_Irmão Bernardo, quanto prazer em vê-lo retornando ao nosso convívio. Já fazia algum tempo que o irmão não aparecia, mas temos acompanhado suas lutas em outros setores de nossas imediações. Tivemos noticias de sua protegida, que segue ainda em sua jornada de vingança, contra a nossa pobre irmã Celeste.

Ao ouvir o nome de Celeste, Dionísio espantou-se pois não esperava que sua amada estivesse com problemas com qualquer outra pessoa, pois segundo recordasse, Celeste era de uma candura sem par, e não poderia criar inimizade com quem quer que fosse.  Soube depois do seu desencarne e socorro, que as atitudes dela foram induzidas por outra pessoa sem que ela mesma pudesse dar-se conta disso. Mas não lhe deram mais detalhes do ocorrido, e agora a sabia sob a ameaça de alguém! Deveria saber quem era esta pessoa e faze-la ver que Celeste não poderia ser a maldosa que pensavam.  Percebendo seu interior revolto por estas notícias, Bernardo voltando -se para o seu pupilo, disse:

_Acalma-te, Dionísio! Não se procede assim como pensas. Tenha animo e serás colocado a par de toda a situação. Na verdade a tua presença aqui na terra agora é não só para te instruíres e avançar na tua evolução, mais também de grande auxílio para tua amada Celeste.

_Muitos dos acontecimentos na tua vida terrena e que pensavas que eram fatos do destino, na verdade eram consequências de vidas passadas, onde tu, Celeste e outros que virás a conhecer, participaram de forma muito efetiva. Acalma-te e tudo se esclarecerá!

Os encarnados sem sequer imaginam a imensa tarefa que já evidenciava na casa para os trabalhos noturnos, trocavam informações entre si, procurando encontrar o melhor meio de atender as pessoas que compareceriam à noite, para assistência. Uma senhora aparentando seus 60 anos mais ou menos, dirigia-se a todos com autoridade e energia, ajustando os pequenos detalhes do serviços e incumbência de cada um dos trabalhadores.

Irmão Aloísio, que atendera Bernardo, disse, apontando a senhora: _ Nossa querida irmã Dulce, agora atarefada com os preparativos não nos detecta a presença, mas sabe que estamos tão atarefados quanto eles. Mas quando começarem os trabalhos poderemos entrar em sintonia com ela. Tem nos sido de relevante auxilio na ajuda as infelizes que aqui trazemos, com sua orientação aos encarnados no contínuo processo da oração, não deixando que aja falhas no andamento da efluência de energias aos necessitados.

Dionísio estava extasiado com as tarefas necessárias ao atendimento dos desencarnados e aos irmãos ainda em jornada terrena. Admirava-se da exigência de afazeres para evitar qualquer influência maligna deitasse por terra todo o esforço dos socorristas e dos auxiliares dos dois planos, imbuídos na tarefa de socorro espiritual.

Doce infância

A sala da casa era composta de um armário tipo cristaleira, com portas de correr, em vidro. Todo feito de madeira, com um pequeno espelho em cima de sua tampa. Um sofá confortável do outro lado da sala em frente a cristaleira. Duas poltronas grandes em cada canto. E num dos cantos em uma prateleira de canto em madeira um rádio de ondas curtas e longas, cuja fio se prolongava até a antena fora da janela ao lado. A mesa ladeada por cadeiras de assento de espuma, que servia de mesa de jantar nas festas, compunham o mobiliário da sala.  O assoalho todo em madeira tipo lambril (ripas que se encaixam) bem encerado, mostrava que a casa embora simples era bem cuidada. Ao lado da sala estava a cozinha, no mesmo estilo, com uma geladeira bem no canto a esquerda da entrada vindo do corredor, uma grande mesa para as refeições ladeada por seis cadeiras. O fogão com suas quatro bocas acesas e as panelas onde estava sendo preparado o almoço, cujo aroma se espalhava pela casa, já deixando os residentes de água na boca, pelas delícias que se esperava.  Neste ambiente harmonioso, uma criança adentrava o local, deixando todos felizes com seu ar pueril. Os cabelos revoltos, seu sorriso infantil, sua camisa aberta à altura do peito, a calça de pernas curtas, que hoje seria tomada por bermuda, de cor cinza, os sapatos cheios de poeira colhida na corrida da rua para o interior da casa. Era Dionísio que chegava do colégio, e já deixava a residencia envolta com sua alegria de menino. Jogando a maleta de escola em um ponto da canto da sala, o menino foi á cozinha atrás da mãe que terminava o almoço. Seu pai logo estaria em casa vindo para a refeição antes de voltar ao trabalho.

_Vá lavar as mãos e venha almoçar, menino! Ordenou sua mãe. Depois faça sua lição antes de ir brincar. Como foi sua prova na escola?

_Ah, mãe, foi como eu esperava. Já tinha estudado tudo e por isso minhas notas foram boas. A professora até disse que neste ritmo de estudo devo passar de ano com louvor.

Dito isso, Dionísio foi ao banheiro para lavar as mãos e jogar água no rosto para tirar o suor provocado pela correria. Depois retornou á sala para o almoço. Sua mãe havia feito sua refeição preferida, bifes de figado com molho de cebola.

Logo todos estavam reunidos á mesa para a refeição. Terminado o almoço, depois do descanso de seu pai, e do mesmo retornar ao trabalho, sua mãe voltou á lida da cozinha e tendo o menino feito as lições, e os estudos, Dionísio pediu à mãe autorização para ir brincar na campinho com os amigos. Sua mãe concordou desde que ele tomasse o cuidado para não se machucar.  O campinho onde a garotada se reunia para o jogo de bola, e outras brincadeiras, era umas duas quadras longe de sua casa. Na realidade era uma área de dois a três terrenos ainda não ocupados e no fundo deles havia um barranco de sete metros aproximadamente, e que ligava uma rua a outra que era a rua da estação ferroviária.  A gurizada já estava a fazer a separação dos integrantes para os times que disputariam a partida daquele dia. Era uma competição que todo dia se formava, e que os times sempre estavam com jogadores diferentes entre eles. A garotada se divertia até o cair da noite, quando todos iam para casa, recompor as forças para a escola de manhã.  Dionísio, cansado da algazarra, chegava em casa, banhava-se e após o jantar, ia para seu quarto para dormir, mas não antes de fazer suas orações como sua mãe havia ensinado. Só então deitava-se e dormia. Sua noite mais uma vez, foi cortada de sonhos que ele não entendia. Em uma das cenas daquele sonho ele se via como fazendeiro, para seu sofrimento, no sonho ele perdia a esposa e um filho recém nascido. Estranho sonho para um menino que nem sequer cogita a ideia de formar uma família, ainda.  Na manhã seguinte, ás 06hs30min, sua mãe lhe acorda para ir ao colégio. As sombras do sonho a noite se dissiparam, e o menino levantou bem disposto, contente por mais um dia de estudos, pois gostava de estudar. Queria poder se preparar para garantir um futuro seguro a família, que um dia sonhava possuir.

A caminho da escola encontra-se com outros coleguinhas, e juntos caminham em algazarra pueril até os portões da escola.  O colégio de muros baixos que ao longo da calçada ia decaindo como se fosse degraus, dava a volta na esquina e termina no portão lateral por onde as crianças entravam. A frente da escola estava a entrada da diretoria e a sala de professores, onde se chegava subindo uma escada de quatro degraus, à direita a diretoria e a esquerda a sala de professoras. Ao fundo as portas de duas salas de aula. Que tinham saída para o pátio de recreio. À saída das salas do lado direito ficavam os banheiros masculino e feminino.  O pátio de recreio era ladeado por quatro salas de aula e a cozinha das merendeiras. Um corredor ao lado do prédio, que ia do pátio até a entrada de professores. Neste pátio havia um local, onde as crianças na semana da árvore sempre plantavam uma sementinha, que quando vingava, era transplantada para outro local.  A sala de aula de Dionísio era uma das que ficavam em frente a cozinha, separadas pela parte coberta do pátio.  Durante o recreio as inspetoras e o inspetor de alunos, ficavam esgotados de tanto correr e ralhar com os alunos que não paravam com seus folguedos. E assim os anos se passaram e o garoto Dionísio foi-se formando um jovem feliz, estudioso e com grandes sonhos para seu futuro.  Dionísio já cursava o quarto ano, quando conheceu Elisa, que era colega de uma prima sua. Apresentado a ela, seu coração infantil julgou estar defronte aquela com quem dividiria seu futuro. Nascia seu primeiro amor. E como sempre surge em sua frente um rival. Pedro Lopes um de seus colegas, também se interessa por Elisa, e os dois amigos começam uma competição pela atenção da menina. Elisa tem uma certa preferência por Dionísio, mas Pedro tudo faz para atrair seu olhar. Revoltado, Dionísio, um dia à saída da escola, chama Pedro para a briga pelo amor de Elisa. Os dois estão prestes a se engalfinhar quando o inspetor chega e acaba a briga, pondo os dois para correr. As mães dos alunos são chamadas na diretoria e ao se defrontarem se reconhecem como primas distantes.

Sabendo que Pedro é seu primo de terceiro grau, os dois antes colegas mas agora parentes deixam suas rugas. Porém o amor por Elisa perdura no coração de Dionísio.  E assim os anos se passaram e o garoto Dionísio foi-se formando um jovem feliz, estudioso e com grandes sonhos para seu futuro. Elisa ficou no passado, tornando-se uma boa lembrança de sua infância.

As ilusões da juventude.

Dionísio agora com 19 anos, terminava o colegial (hoje o ensino médio). Junto com nova turma de amigos, outros programas surgem em seu caminho. Outros amores conquistam seu coração. Junto com seus amigos, Dionísio participa de várias excursões pelas cidades de seu Estado. E em uma delas conhece Eneide, uma jovem estudante em uma das classes da mesma série que ele. Começam uma forte amizade, programam passeios juntos, vão à praia, e fazem alguns lanches na entrada para o colégio ginasial. Dionísio cursava o último ano do ginásio e Eneide também.  Todos os seus colegas seriam capazes de afirmar que os dois tinham uma relação de namoro, mas eles refutavam esta afirmação alegando que somente eram bos amigos. Como todo jovem, ele tinha diversos amigos e alguns, infelizmente não mantinham uma boa saúde mental e se perderam no caminho do vício de drogas. Dionísio quando percebeu que estes trilhavam este caminho perigoso, começou a se afastar deles, em contudo desprezar sua amizade, pois que alguns deles o consideravam e não lhe apresentavam as suas preferências.  Terminado o ano, Dionísio logo começou a procurar trabalho, pois tinha intenção de fazer a faculdade e obter um diploma, para ajudá-lo a encontrar melhores empregos. Eneide que também se diplomou continuava a ser sua companheira de excursões para encontrar trabalho.  Seus pais já davam como certo o enlace dos dois, pois que não se largavam de maneira nenhuma. Pareciam mesmo dois enamorados ou ainda dois irmãos. Porém o que movia ambos era realmente uma sólida amizade.  Um dia Eneide telefona para Dionísio e pede que o rapaz vá até sua casa, pois precisa falar com ele. Sem titubear o jovem confirma sua ida até sua residência e assim o faz.  A casa de Eneide fica a alguns quarteirões da casa de Dionísio. Dentro em pouco tempo, ele chega a ela. O muro da casa é de tijolos pintados de vermelho vivo, não muito alto, com seu portão lateral de modo a não ficar defronte a entrada da casa. Ele bate palmas para se anunciar e Eneide vem atendê-lo.

_Olá, Dionísio! Entre, eu já te esperava, pois sabia que você viria logo.

_Não podia deixar de atender um pedido seu, mocinha.

Entrando na casa, logo se deparou com a sala de estar, com um bonito sofá de cor marrom clara, onde Eneide pediu para ele sentar-se. Á sua frente uma estante com diversas partições onde se localizavam livros escolares e romances, duas bíblias, uma televisão, porta-retratos e quatro portas abaixo. Em frente à janela do lado esquerdo do sofá, estava uma mesa cercada de quatro cadeiras.

_Boas tardes, Dionísio! Era a mãe de Eneide que entrava na sala, vindo da cozinha. Há quanto tempo não o vemos aqui em casa!

_Boa tarde, dona Creusa! Desculpe, mas como a senhora sabe, tenho andado procurando uma coisa melhor onde possa trabalhar, pois onde estou não há possibilidade de pagar a faculdade. E nós dois, eu e Eneide, queremos muito chegar a ser bem sucedidos na vida.

_É verdade! Sabe eu e meu marido, ficamos muito felizes por saber que a nossa filha está andando com você, nestas jornadas à procura de emprego. Não só pela confiança que temos em sua pessoa. Mas também porque sabemos que você aconselhará esta menina, se acaso ela decidir por algum lugar que não lhe seja conveniente.

_Mamãe! Sabe muito bem o que eu quero para meu trabalho! É logico que não me confiarei em nenhum lugar que não tenha certeza de que é digno! Choramingou Eneide, fingindo-se ofendida com a mãe.

_Mas, Dionísio deixa eu te explicar por que te chamei aqui. Bem, lamento te dizer mas ficarei privada de tua companhia por este mês vindouro. Uma tia minha que mora em outra cidade, pediu à minha mãe que deixasse eu ficar um mês com ela e com minha prima. Meu tio vai trabalhar em um barco de pesca e ficará este período embarcado.

Minha prima trabalha com uma organização que ajuda pessoas carentes e justamente neste mês ela vai passar uma semana no interior do país, fazendo uma espécie de estágio com outros assistentes sociais. Logos depois ela volta e ficaremos as três à espera de meu tio.

_Serão os dias mais longos de minha vida! Falou um tanto amuado, Dionísio. Mas para não sentir tanta saudades virei de vez em quando visitar teus pais e absorver da tua presença espiritual nesta casa, acrescentou sorrindo.

_Será uma ótima ideia, afirmou sorridente dona Creusa.

A partida de Eneide.

No inicio do mês seguinte, logo pela manhã, Eneide estava na rodoviária para partir para a casa de sua tia. Seus pais e Dionísio estavam lá para se despedir dela.

_Vá com Deus, minha filha! Dê um abraço na minha cunhada por mim e lembranças ao meu irmão. Diga-lhe para se cuidar no barco e mandar recados a todos nós. Recomendou Seu Rubens, o pai de Eneide.

_Minhas recomendações a todos e diga a Celeste para vir nos visitar um dia. Sua prima desapareceu de nossas vidas depois que mudaram-se para Santa Felícia.

_Está bem! Falarei a todos. Respondeu Eneide, querendo confortar os pais que sentiriam sua falta nestes dias. E você, Dionísio, que recomendações me faz para minha viagem?

_Somente que me escreva! Pois assim a saudade será menor. E me dê o endereço, pode ser que eu arrume serviços de vendedor para o interior e aí vou vê-la.

Todos riram desta colocação de Dionísio, certamente que vendedor não era sua ambição de trabalho visando o futuro. E depois de tantos abraços, Eneide partiu para a casa dos parentes.  Os dias transcorreram sem novidades. Dionísio estranhava a ausência da amiga, companheira de todas as horas. Mas sua busca por uma colocação melhor alcançou resultado. Por recomendação de seu primo Pedro, colocou-se como funcionário em um banco da cidade. Era encarregado de serviço bancários na área de FGTS e PIS.  Seu inicio aos trabalhos dar-se-iam dali a dez dias. No primeiro domingo daquela semana, ele aprontou-se e avisou aos pais que iria visitar Eneide, para dar-lhe a boa notícia. E naquela manhã, ele partia para Santa Felícia.  A cidade de Santa Felícia era uma pequena cidade do interior, mas o que chamava a atenção dos visitantes era a ordem que reinava nas suas ruas. Eram bem cuidadas, o asseio se espelhava nas suas calçadas todas pavimentadas em pisos do mesmo detalhe. As casas de muros baixos e árvores nas calçadas equidistantes umas das outras.  Dionísio saiu caminhando pelas alamedas, procurando a rua que Eneide lhe havia escrito. Seu coração ansiava por ver a amiga e contar lhe as novidades que caminhavam para realização de seu sonho de cursar a faculdade. Por fim chegou a uma casa, que correspondia aos padrões da cidade e também à descrição que lhe havia descrito a amiga.  Tocou a campainha, uma bonita jovem de cabelos castanhos, olhos castanhos claros, quase de sua altura. Seu corpo bem acentuado, com uma cintura delgada, prendeu a atenção de Dionísio.

_Posso ajudá-lo? Perguntou.

Dionísio ficara tão fascinado pela jovem que nem sequer ouviu a pergunta, mas escutou aquela voz como se fosse música chegando aos seus ouvidos.

_Senhor! Está se sentido bem, posso ajudá-lo em alguma coisa? Se está vendendo não estamos interessadas.

_Ah,sim! Quero dizer não, isto é...,gaguejou Dionísio. Desculpe é que eu procuro por uma jovem. Chama-se Eneide e o endereço que ela me deu parece que é aqui. Respondeu ele meio aturdido com a presença daquele ser angelical.

_Ora sim, você é o namorado de minha prima! Dionísio, não é? Claro ela está aqui, entre vou chamá-la. Ela está nos quartos lá em cima.

Então Dionísio percebeu que a casa era um sobrado e ao chegar sem levantar os olhos não percebera e depois aparecera aquela visão.  Entraram na casa, Celeste, pois esta era a prima de Eneide, dirigiu-se ás escadas chamando pela prima.

_Eneide, desce aqui tem uma surpresa esperando por você aqui na sala!

_ O que! Quem é? Já vou descer. Pede para esperar um pouco.

Em pouco depois a jovem descia as escadas e ao se deparar com Dionísio não pode deixar de gritar seu nome.

_Dionísio, meu querido! Que surpresa maravilhosa! Não acredito! Você veio me ver? Como? Porque não escreveu antes e eu ia na rodoviária te esperar! Disparava as perguntas, sem deixar o rapaz tomar folego e responder à inquisição.

_Celeste, vem cá! Este é Dionísio de quem já te falei! Meu grande e sincero amigo desde a infância. Dionísio esta é Celeste minha prima! Apresentou ela um ao outro.

_Muito prazer! Amigo é?! Do jeito que ela fala em você dificilmente alguém acreditaria que é somente um amigo. Parece que é a paixão de sua vida.

_O prazer é meu, Celeste! Retribuiu Dionísio, fitando mais ainda os olhos da garota. Desculpe, mas não tive a sorte de que me contassem sobre você com tanta veemência. Somente soube de você no dia da partida da minha amiga. E pode crer realmente somos bons amigos e sinceramente invejo quem Eneide decidir entregar seu coração.

Dionísio disse estas palavras como se quisesse retirar toda a impressão que Celeste tivesse de que ele e Eneide pudessem vir a se comprometer um com o outro. Sentiu um estranho desejo pela jovem prima de sua amiga, algo que não tinha sentido antes.

Celeste também, naquele momento pensando que a prima realmente estivesse namorando aquele rapaz, sentiu um estranho aperto no coração. Parecia ter encontrado a sua alma gêmea e ela já estivesse comprometida. E justamente com sua prima.

_Mas conte-me! Como estão seus pais, e seus estudos? Você passou em casa ? Viu minha mãe e meu pai? Porque eles não me avisaram de sua chegada.

_Calma, Eneide! Senão vou ser obrigado a escrever! Você não para de falar para eu possa explicar, o porque da minha vinda tão depressa! Todos estão bem e mandam lembranças. Seus pais morrem de saudade e não vêm a hora de seu retorno. Quanto a mim, continuo meus estudos, mas agora recebi uma proposta de trabalho em um banco da nossa cidade. Foi um primo que me arrumou a vaga.

_Que sensacional!! Estou muito feliz por você. Sei que dará tudo certo e que você será capaz de entrar na faculdade, assim que possível. Está vendo Celeste, ele não é como eu te disse, gentil mas determinado.

_Realmente, pelo que pude observar agora, não posso deixar de concordar com você. Ele parece mesmo determinado e muito e muito gentil, acrescentou Celeste e estas últimas palavras seu olhar procurou o de Dionísio.

_ Bem, mas teremos que conversar com seus pais para deixarmos um quarto para o Dionísio, visto que hoje não tem como ele voltar para a nossa cidade. Bem ele pode ficar no quarto em que você está e você vem para o meu quarto. Decidiu Celeste, e já arrastando a mão da amiga . Dionísio, aguarde um pouco que nós já voltamos, disse ao jovem, que não teve outra alternativa a não ser ficar ali.

Assim que entraram no quarto, Celeste dirigiu-se à amiga:

_Então me conta de verdade. Quer dizer que vocês não são namorados? Você deve ser louca para dispensar um cara tão bonito assim!

_Lá na nossa cidade as minhas amigas me dizem a mesma coisa. Mas na verdade, eu e Dionísio somos como dois irmãos. Não consigo pensar nele de outra maneira. E as minhas amigas estavam a fim dele, por isso queriam ter certeza e você está interessada nele?

_Bem..relutou Celeste enrubescendo..é que como você falava tanto dele que eu achei...sabe seria normal.

_Ora sua boba! Se você estiver a fim dele, eu dou uma forcinha, afinal você é minha prima querida e só posso desejar o melhor para você.

_Meninas!! Falou Dona Armênia, a mãe de Celeste abrindo a porta, e então o que decidiram, onde o rapaz ficará, o que decidirem eu e seu pai concordaremos, Celeste. Completou a senhora. Além de se agradar do rapaz, acredito que se não fosse de confiança, os pais de Eneide não lhe dariam permissão para visitar a filha aqui, longe deles.

E naquela noite, Dionísio dormiu no quarto de hospedes da casa de Celeste. Mas ao contrário do que pensou sua noite não foi tão tranquila. Um pesadelo que o perseguia quando criança, resolveu voltar nesta noite. E nesta nite em especial as emoções que cercavam este sonho tornaram-se mais marcantes.

Capítulo  2

Os trabalhos na casa de repouso.

Dionísio e Bernardo voltaram à noite para a casa de repouso e assistência, para acompanhar o trabalho de recuperação dos assistidos, trazidos pelo plano espiritual. Ao chegarem constataram que diversos trabalhadores encarnados já estavam em processo de oração, procurando sanear o ambiente para auxílio dos amigos do plano superior. E maior número de auxiliares do plano espiritual já se faziam presentes, também em oração e ligando-se aos trabalhadores encarnados, para a coleta das vibrações curativas que seriam emitidas por ambas as partes e se aplicariam aos necessitados.  O ar do ambiente se revelava aconchegante e leve, todos podiam sentir uma aragem com cheiros de flores silvestres, morna, calmante e que envolvia totalmente a casa. Os utensílios que seriam usados tanto no plano material quanto o espiritual, estavam ordenados e maneira a serem alcançados no momento preciso.  No plano material, toalhas, instrumentos de primeiros socorros, copos de água a serem fluidificados e depois cada assistido tomar sua porção, e as cadeiras para a assembleia de preparação e para os trabalhadores. No plano espiritual, alguns utensílios médicos a serem precisos, em qualquer intervenção cirúrgica, vasilhames com líquidos fluidificados de várias cores, e macas.  À hora acertada, começam a chegar os assistidos encarnados, passam pela triagem onde seus dados pessoais são checados e tomam um passe de limpeza (para destruir as energias negativas vindas das ruas) e vão para a sala de preparação. Ali uma música suave e envolvente, ajuda na mentalização de um ambiente mais pura. Os trabalhadores da casa, mais afeitos ao trabalho e com mais responsabilidade, vão para a câmara de passes e fazem seu preparo coletivo para harmonizar as energias suas com a do plano espiritual. Dionísio e Bernardo são convidados a presenciar os trabalhos na câmara de passes e sentam-se em lugar de observância.

_Lembre-se, meu filho! Virou-se Bernardo a Dionísio. Embora verifiquemos atos que nos parecem fugir à nossa compreensão, nos é permitido apenas acompanhar, não podemos interferir na ajuda daqueles que aqui se aproximarem.

_Com certeza, meu amigo! Mesmo porque não me vejo em condições ainda de dar qualquer tipo de ajuda a quem possa ser.

_Bem, queridos amigos e irmãos de jornada! Iniciou os trabalhos a irmã Dulce, que era a dirigente da câmara. Aqui nos reunimos mais uma vez para este pequeno trabalho de nossa parte, que é mais de oração e desprendimento do bem que possamos almejar, em forma das vibrações para nossos irmãos necessitados. E porque o trabalho maior, de buscar estes sofredores nas escuras esferas onde eles se encontram e traze-los aqui para serem curados é dos nossos irmãos do plano maior

E para iniciarmos nossa ajuda a eles, levemos ao alto, ao nosso Deus, que é nosso Pai e nosso Mestre e Senhor Jesus Cristo, uma oração de agradecimento e auxílio, para começarmos nossa reunião.  E iniciou a prece com o Pai Nosso; “Pai nosso que estás no céu, santificado seja o teu nome, venha nós o vosso reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje, e perdoai as nossas ofensas, na mesma medida em que perdoarmos nossos ofensores. Não nos deixe cair nas tentações, mas livra-nos do mal. Porque teu é o reino, a glória e o poder para sempre.; Amém”.

_” Senhor aqui estamos nós reunidos em teu nome, para contribuir de forma muito pequena, mas despretensiosa, na tua obra de amor e auxílio. Ampara-nos, Senhor, para que nosso egoismo e nossa vaidade não se sobressaiam nas nossas ações deste trabalho. Continuou a dirigente, alterando seu ritmo vibratório numa intensidade que sua áurea foi-se engrandecendo e chegando a envolver todos os presentes. Dai-nos a sabedoria de aconselhar a quem precise, coloca em nossa boca as palavras que sabes que cada um precisará ouvir nesta noite. Amém.

Ainda prosseguiu :_ Agora que cada se recolha dentro de si, envolvendo seu anjo guardião, para que este lhe proteja, sob o manto de Jesus, solicite o apoio dos trabalhadores superiores e abandone nos braços de Jesus, nosso Senhor para que este nos apresente a Deus, nosso Pai. Esperou alguns instantes enquanto cada obreiro, se sintonizava com o alto e declarou iniciado os trabalhos da noite.

Durante o correr da noite e dos trabalhos, diversos espíritos de pessoas sofredoras no plano espiritual foram trazidas ao socorro e algumas ouviram os conselhos da dirigente encarnada, que recebia as orientações vindas como tênue feixe de luz azul, do céu e se ligavam ao alto de sua cabeça, e brilhavam mais na garganta, suavizando sua voz  Em certo momento, Irmão Aluísio, que também estava presente, virou-se para Bernardo e notificou-lhe.

_Irmão Bernardo, agora traremos a sua irmã protegida, Judite e que ainda se acorrenta a fardos do passado, e por isto tem se tornado algoz de Celeste.

Novamente ouvindo o nome de Celeste, Dionísio quis se inteirar do assunto, mas Bernardo lhe conteve e aconselhou; _Calma, Dionísio observe e compreenderá alguns dos fundamentos que nos unem a tantas vidas que desprezamos, por nossa ignorância do nosso compromisso com o bem maior.  Foi chamada a moça em questão. Quando esta entrou na câmara, Dionísio viu um mulher jovem, tipo físico das pessoas espanholas, de cabelos em desalinho, magra, de aparência de uma pessoa com ódio no coração, com olhar esguio como se procurasse uma presa, para despejar sua raiva contida. Era Judite. Embora estivesse claro que era ela quem atormentava Celeste, Dionísio não conseguiu sentir nenhum ressentimento contra ela. Poder-se-ia dizer que quase a amara como uma irmã.  Irmã Dulce, dirigindo-se a ela, que incorporada ao médium, dava sinais de insatisfação por ter sido trazida ao local, disse-lhe com voz fraterna: _ Querida irmã, foste trazida aqui, não para seres uma prisioneira, mas que tires a trave em teus olhos e vejas a irmã, alvo de teus devaneios como alguém que precisa de teu apoio na jornada que empreende na terra.

_O quê??!! interrogou a enferma com voz rouca. Como posso olhar com compaixão, aquela que me roubou o coração daquele que comigo compartilhava a existência. De quem rondava meu lar à espera de que minha morte, fosse o momento para seu ataque à minha família. E se dizia minha amiga. Jamais!

_Judite, perceba que tua passagem foi interrompida por sua vaidade. Tudo porque você não suportava a ideia de ser mãe e educar um ente que se entregava aos teus cuidados, para iniciar uma vida de reparos de seus erros.

Uma vida que te determinaste ao aborto e consequentemente levou-te a morte, junto com teu rebento.

_Mentira!! Gritou a mulher. Meu filho nasceu, mas ela o matou para que não fosse empecilho entre ela e meu Alonso. Desde a hora em que me recuperei naquele hospital, querem me enganar com falsas verdades, mas eu fugi e fui ao encalço dela e a encontrei casada com meu amor. Não a perdoarei nunca. E ainda hoje ela me tira a possibilidade de encontrar meu Alonso, porque casou-se com ele de novo.

Bernardo, virando para Dionísio explicou-lhe : _Atentas agora para o envolvimento de Judite e Celeste. Elas foram companheiras de outra hora e muito amigas. Celeste que na época chama-se Dolores, tinha por Alonso o marido de Judite, um amor secreto que só foi revelado depois e por que Judite destruiu sua chance de vitória na luta terrestre.

Naquela era Alonso era você, Dionísio. Judite na ânsia de vingar-se de Dolores, não quer aproveitar outra reencarnação e evoluir. Prefere ficar ao lado da sua vítima, sem ver que outras pessoas estão constantemente ao seu lado, prontos para ajudá-la nas suas lutas pelo sucesso.    Nesta vida, você tinha uma dívida a ser quitada com Judite e vocês se encontraram nela para sanar esta questão e depois cada um seguir seu caminho. Já você e Celeste são almas gêmeas que há muito vêm lutando pela sua evolução.

Uma fazenda desequilibrada

Ano 1530. Uma vasta propriedade do Senhor Alonso Venturosa Castel, destacava-se na paisagem da América Central. Em seus campos dezenas de cabeça de gado pastavam e se preparavam para serem transportados pelo trem ás cidades mais distantes, a serem vendidos a bom preço  Dom Alonso, um homem de uns quarenta anos, forte, de cabelos e bigodes brancos, era um ótimo negociante. Tratava seu empregados, não como servidores mas como colaboradores na fluência de seus negócios de maneira que todos gostavam de estar sob suas ordens. Tratavam de suas obrigações com o maior prazer, pois sabiam que toda a prosperidade do patrão era transferida em suas porções entre todos os que nela trabalhavam.  Dom Alonso era casado com Dona Judite, uma mulher bela de formas, morena, longos cabelos pretos, de caráter forte, decidida, mas de um ciúme por Dom Alonso, que raiava as beiras da loucura. Também era muito vaidosa. Enchia-se com as joias que o marido lhe dava e as ostentava sem medo de assaltos pois na cidade todos respeitavam Dom Alonso. Sua integridade facultava-lhe que se algum malfeitor se levantasse para roubar algo do fazendeiro, logo a população o prendia e entregava ao delegado.

Dom Alonso, junto com alguns vaqueiros inspecionava o rebanho, separando as reses que seriam embarcadas e vendidas. Cavalgava pela colina, orgulhoso da maneira que estava conduzindo sua herança, bem do jeito que seu falecido pai lhe incumbira. Ele lhe pedira que não se desfizesse do bem que lhe deixara, tendo em vista que ele (seu pai) e sua mãe dedicaram suas vidas a construir o patrimônio que lhe deixaram.  As lembranças de seu passado, as lidas do trabalho ao lado do pai, a dedicação da mãe no lar para que os dois quando chegassem do campo, saciassem a fome e descansassem, trouxe alguns lágrimas aos olhos de Dom Alonso.  De volta à casa grande, encontrou o capataz da fazenda, à sua espera.

_Boas tardes, Emílio! Já escolhestes a equipe que irá contigo, para a estação embarcar o gado?

Emílio, um jovem de cabelos castanhos claros, de físico de alguém acostumado a trabalhar em serviços pesados como a lida com o gado. Era há muitos anos capataz da fazenda e Dom Alonso tinha muita confiança no rapaz. Emílio também era apaixonado por Dolores, amiga de Judite, mas não tinha coragem de se declarar por saber que não era correspondido.  Dolores por sua vez, tinha um amor secreto por Dom Alonso, mas devido a seu caráter e por sua amizade com Judite, calava este sentimento, escondendo-o dentro do seu coração.

_Patrão, já está tudo dentro do combinado! Asseverou Emílio. A equipe já está de prontidão e assim que o trem chegar, partiremos para a cidade com o gado. Os compradores já estarão a nossa espera e fecharemos o negócio assim que lá chegarmos.

_Muito bem, Emílio, obrigado por sua atenção a este negócio! Garanto que todos na fazenda serão beneficiados por esta venda.

Após despedir-se do capataz, Dom Alonso entra na Hacienda. A casa grande era formada por uma extensa varanda, onde os patrões e seus visitantes ficavam ás tardes, descansando nas redes pendurada nas traves do telhado. No meio do prédio ficava a entrada da sala ampla com duas grandes janelas envidraçadas,. Os móveis feitos de madeira de qualidade retiradas nas florestas em volta da fazenda, compunham o mobiliário. Uma mesa grande com tampo de vidro, seis cadeiras com assentos almofadados

Um armário longo com portas de vidro, onde se guardavam os utensílios utilizados nas festas, tais como copos, travessas ornadas e trabalhadas em estilo espanhol., etc. Um lustre no teto de onde pendiam vários pingentes, terminando nas luminárias, todo ele em vidro. Á esquerda da entrada ficava a escada que levava aos quartos e ao escritório particular de Dom Alonso. Á frente, na direção da porta de entrada ficava a porta de acesso à cozinha, e dependências do serviços da casa.

No sofá, ricamente recoberto com capas para os mesmos, tecidos do tipo chinês, estava Dona Judite, à espera do esposo.

_Ora, Dom Alonso, que demora para verificar se os trabalhos do criadagem está em ordem. Pensei que não queria entrar em casa e descansar ao lado de sua esposa  Ainda bem que Dolores me fez companhia até a pouco, mas retirou-se dizendo que compromissos urgentes à chamavam à cidade. Não viste sua charrete saindo quando chegaste?

Dom Alonso bem que reparara, ao chegar, a charrete saindo com a jovem segurando as rédeas e incentivando os animais a trotarem rápido, rumo a cidade.

_Sim! Notei que ela saía. Mas estava querendo chegar e tomar uma ducha para refrescar do calor e fazer um lanche em sua companhia.

_Ah!, sinto muito! Mas já lanchei, pois não sabia que horas virias. E também acabo de chegar do médico da cidade onde fui à aquele exame que havíamos combinado. E ele me deu uma triste notícia. Bem espero que ele esteja enganado!

_E qual foi o desastroso resultado que recebestes?

_Ele diz que estou grávida! Mas não quero que seja verdade, pois não quero desfigurar meu corpo, engordando com uma criança no ventre.

_O quê!! Estás esperando um filho! Que notícia maravilhosa, meu amor. Finalmente teremos a família que sempre sonhamos.

_Calma, Alonso! Ainda não há certeza. E também nesta minha idade, já não sei se quero engravidar. Tenho um, corpo tão bem feito que uma gravidez só iria deformá-lo, durante e após ela.

Mas Dom Alonso não cabia em si de tanta felicidade , correu e tomou a mulher, levantou-a em seus braços, pondo-se a rodopiar com ela. Depois pondo-a no chão, subiu as escadas, par seu quarto, banhar-se cheio de alegria pela notícia.

Uma gravidez indesejada e um ato impensado

Os meses foram passando e a barriga de Judite foi se avolumando. Sentindo-se horrível, ela não mais saia de casa. Passou a destratar os empregados e reclamar de tudo e de todos. A única pessoa que ainda mantinha uma conversa saudável com ela era Dolores, que agora fazia tudo pela amiga, que só queria ficar de cama

Um dia, Dolores surpreendeu-se com a amiga que revelou-lhe um segredo insano:

_Dolores, vou te revelar! Já marquei com uma senhora da cidade e que faz trabalhos de medicina, e vou tirar esta criança. Não aguento mais esta situação, não posso sair, nem colocar meus vestidos de festas, estou feia, horrível de se olhar.

_Judite, estás louca! E se Dom Alonso descobrir, ele espera tanto por esta criança! E os riscos que corres indo a pessoas que nenhum trato com medicina têm. Podes morrer, minha amiga!

_Ora, Alonso! Ele não sabe o que é sentir este peso enorme dentro de si. Não sabe o que é estar feia, sentir-se enorme, gorda! Ele terá que aceitar depois que eu o fizer não tem mais jeito. Ele se conformará.

Judite tinha colocado na sua cabeça, que isto era o melhor para si. Era praticar aquele ato insano, sem se importar com a vida que se formava em seu seio. Para ela, aquilo nada mais era ainda do que um feto sem nenhum sentimento.  E os dias foram passando-se. Uma tarde, Dom Alonso chegou do campo, entrou na casa e chamou por sua esposa.

_Dona Judite saiu cedo, não nos disse onde ia nem quando retornaria. Achamos estranho pois não seu costume agir assim, mas como é a patroa....

__Tudo bem, não se preocupe, Consuelo, logo ela deverá estar de volta. Prepare a mesa para o jantar, vou tomar um banho e já descerei. Talvez aí ela deva ter retornado.

Dom Alonso estava sentado na rede da varanda, agora já preocupado com a demora da esposa, quando chegou Dolores.

_Olá, Alonso! Como está Judite? Não pude vir mais cedo para visitá-la. Não gostei do seu jeito, estava muito estranha, falava coisas desconexas. Judite não estava no seu estado normal.

Estavam conversando quando Emílio chegou esbaforido!

_Dom Alonso, venha rápido! O doutor mandou chamá-lo, parece que dona Judite está passando mal. Aconteceu algo a ela e a bebê.

Dom Alonso, Dolores e Emílio, juntos rapidamente pegaram uma charrete e dirigiram-se a cidade.

O consultório do médico ficava a poucas quadras da mercearia, e quase ao lado da delegacia. O delegado estava na porta esperando por eles.

_Gomes o que aconteceu? Como está Judite? Onde está o doutor? Interrogou Dom Alonso, entrando no consultório.

_Dom Alonso, disse o médico, como pode deixar sua esposa praticar um ato tão louco? Ela colocou em risco sua saúde e de seu filho!

_O que ela fez de tão drástico, doutor? Não acredito que Judite tentaria algo para perder o bebê!

_ Sua esposa tentou um aborto com uma mulher que já está presa. Só que tudo deu errado e ela está passando muito mal.

_E a criança? Perguntou Dolores temendo o pior.

_Infelizmente não pudemos fazer nada por ela. A tentativa de Judite foi fatal para ela. E ela mesma está em estado grave.

O desenlace de Judite

Judite foi transportada até a fazenda. Dom Alonso mandou preparar um quarto especial para acolher a infortunada esposa. Dolores dedicava-se à amiga, demonstrando todo seu afeto, e cada vez que via a amiga, definhar seu coração apertava-se de dor.  Dom Alonso agradecia muito à moça pelo apoio que a mesma desprendia a esposa. E com o tempo começou a notar mais a beleza da jovem, seus traços delicados, sua tez tão clara e macia, seus olhos encantadores. E então ele se censurava. Como podia olhar estes traços em outra mulher quando sua esposa definhava em vida.  O que ele não percebia, mas sentia, era que eles já traziam encontro de outras vidas e nesta, mais uma vez se encontravam, para seguir seu destino. Judite, no entanto, notou a mudança de Dom Alonso para com sua amiga e começou uma aversão por aquela que até então era sua mão direita. E como seu caráter estava corrompido, destratava a jovem que não entendia aquela aversão repentina.

O ódio que Judite começou a nutrir pela antes sua amiga e agora sua rival, foi-se acumulando de maneira que sua saúde já fragilizada, agravou-se e um dia cobrou o seu quinhão.  Judite acordou com dores atrozes. Seus gritos abalavam a casa toda. Consuelo mandou chamar Dom Alonso, ás pressas. Mas quando o fazendeiro chegou já era tarde. Judite já havia dado o último suspiro. Sua chegada no plano espiritual foi terrível, como é destino de todo aquele que depaupera a sua oportunidade de evoluir. Ao acordar do torpor inicial que lhe acometeu no desencarne, viu-se presa de espíritos malévolos que se atiravam sobre ela, agredindo-a, com violência e palavras duras. Judite desesperada procurava fugir, mas não encontrava lugar seguro. Passara muito tempo até que ela, foi liberta deste jugo, mas depois fugiu da proteção dos amigos superiores.  Dom Alonso, sofreu um duro golpe, por uma insanidade de sua esposa, perdeu -a e a seu filho tão esperado. Sua dedicação aos negócios da fazenda começaram a ser esquecidos. Os empregados, abatidos com a tristeza do patrão, esforçavam-se para cumprir os contratos de venda do gado. Emílio, mais uma vez, demonstrava aptidão para gerenciar os negócios do fazendeiro e mantinha tudo em ordem.  Com a presença de Dolores sempre cuidando e colocando os afazeres da casa em dia. Dom Alonso ia novamente retomando a vontade de cuidar da fazenda e dos negócios. Gradativamente a vida ia retomando o ritmo normal.

Dom Alonso e Dolores sentiam que a amizade que os unia ia se transformando em algo mais forte. Um dia ele convidou-a a um passeio pelos campos. Tendo ela aceitado, pediu a Emílio que encilhasse os cavalos. Os dois saíram e em pouco tempo estavam à beira de um rio de corredeiras rápidas, mas raso que cortava a propriedade e onde o gado bebia quando estava sedento.  Desmontaram, e Alonso estendendo uma toalha no chão convidou Dolores a sentar-se ao seu lado. Ela atendeu e ambos ficaram durante um tempinho admirando o campo.

_Dolores! Começou Alonso. Sei que poderá parecer cedo demais devido a morte de Judite, mas já se passaram dois anos, e eu sinto que devo falar-te dos meus sentimentos. Não posso mais esconder mas eu estou te amando. Se não sou correspondido, perdoe-me a ousadia, mas se sou amado também como sinto que sou, serei o homem mais feliz do mundo.

_Alonso, há muito tempo estou temendo por este momento. Sabia que a qualquer hora, você poderia tocar neste assunto. Eu já havia percebido seu sentimento por mim, e devo confessar que te amo já desde o primeiro momento em que te vi. Só calei estes anos todos por causa de Judite.

Não pode continuar porque Alonso tomou-a nos braços e deu-lhe um longo beijo. O seu primeiro beijo de amor. Dolores entregou-se ás delicias do amor contido aqueles anos. Cada carícia de Alonso era um passo ao paraíso. As horas correram e quando deram por si a noite caía, serena e com uma brisa morna, que colaborava por deixar suas almas mais felizes.

Um rival se revela nas sombras.

Ao chegarem na fazenda, cada um dirigiu-se a seu quarto para descansar, se possível fosse, pois as últimas horas passadas ainda estavam vivas no pensamento de cada um.  No dia seguinte, Dom Alonso reuniu os empregados para transmitir-lhes a boa nova. De que dentro em pouco tempo casar-se-ia com Dolores. Todos receberam a noticia radiantes, pois amavam Dolores, que sempre fora amável com eles. Menos Emílio, pois este amava Dolores e não gostou de saber que sua paixão iria pertencer a outro, ainda que este outro fosse seu patrão e amigo.  Emílio retirou-se, com o coração cheio e raiva e tramando um meio de impedir este enlace. Seus pensamento sombrios atraiu um ser que rondava por ali, querendo uma oportunidade de vingança. Era Judite.  O capataz começou a desprezar suas tarefas e não atendia mais com a mesma dedicação aos planos do patrão;. Dom Alonso não notava a nova irresponsa- bilidade do rapaz, mesmo porque os negócios ainda estavam caminhando como sempre. A mente doentia de Emílio, agora ainda mais afetada pelo rancor de Judite, fazia com que se esgueirasse pela casa e ficasse observando Dolores. Aguardava um momento em que pudesse falar à moça. Julgava que talvez pudesse faze-la mudar de ideia a respeito de casar-se com o patrão.

Uma tarde, achou que a oportunidade era propicia e quando a moça saiu à varanda, Emílio surgiu diante dela. Seus olhos estavam esbranquiçados, dilatados, como se uma doença possessa tivesse dominado seu olhar. Seus gestos antes moderados agora pareciam agressivos.  Dolores embora percebesse algo anormal, não imaginou que ele poderia agredi-la, pois sempre o via como uma pessoa equilibrada.

_Dolores! Atreveu-se Emílio, Não podia esperar mais a oportunidade de lhe falar. Não quero que se case com Dom Alonso. Alias não quero que se case com homem nenhum que não seja eu. Eu sou completamente louco por você. Desde a hora em que você entrou nesta fazenda eu não consigo pensar em outra mulher que não você.

_Se você insistir em casar-se com Dom Alonso, eu sou capaz de matar-te.

_Emílio, que dizes! Espantou-se a jovem. Por acaso andaste bebendo. Que monte de besteiras é esta que me dizes. Não percebes a traição que cometes contra Alonso que te trata como a um filho?

_Um homem que trata outro como filho não lhe tira a mulher amada! E é isto que ele esta me fazendo. Mas eu não permitirei, antes acabo com os dois!

E num ímpeto, tentou agarrar a jovem, que surpreendeu-se e tentou correr e gritar, mas Emílio ante o fato de que sua amada lhe fugia, tirou de sua arma e atirou.

Dolores, atingida na cabeça, não resistiu ao golpe e caiu desfalecida. Emílio ao ver a tragédia que cometeu insanamente, desesperado voltou a arma para a própria cabeça e disparou, matando-se no mesmo momento.

A chegada de um anjo ao paraíso.

Dolores, no momento em que desencarnou, para maior ódio de Judite, que não pode afrontá-la no plano espiritual, foi recebida pelos seus antepassados que aguardavam a vinda da jovem. E por eles foi levada a um hospital, onde se restabeleceria.  Emílio, em virtude de seu ato contra a própria vida, foi destinado a um lugar de sofrimento onde seu gesto insano se retratava a todo momento na sua memória, causando-lhe dores terríveis, que só acalmariam com nova experiência na carne.

Capítulo3

 

A vida ganha cores mais radiantes.